Antes de falar sobre as trilhas que fizemos, gostaria de contar um pouco sobre El Chaltén.

Trata-se é uma pequena vila turística, em plena Zona Viedma, do Parque Nacional Los Glaciares e parte da província de Santa Cruz – Argentina. 
Está localizada ao sul da Cordilheira dos Andes, no extremo sudoeste da Patagônia Argentina, às margens do “Río de las Vueltas” e ao pé do Monte Fitz Roy, também chamado de Cerro Chaltén. Possui uma população de aproximadamente 1200 habitantes.

El Chaltén também é conhecida como a “Capital Nacional do Trekking na Argentina”, possui trilhas de diversos níveis de dificuldade, desde as mais fáceis como os Mirantes “Los Condores” e “Las Águilas”, até travessias glaciares que necessitam de equipamentos apropriados, como por exemplo, a “Volta ao Gelo Continental Patagônico Sul“, ou trilhas mais técnicas de 5 dias como a  “Vuelta al Huemul“, trilhas de um dia, que também necessitam de equipamentos para neve, como “Paso del Cuadrado“.

#Dica: Caso precise alugar equipamentos para neve, ou outros acessórios para atividades mais técnicas, também é possível conseguir em algumas lojas na vila.

El Chaltén conta com bom sistema hoteleiro, restaurantes caros e também, com preços mais acessíveis (que é para o nosso caso, “pés rapados”, por exemplo rs), também há opções de passeios mais turísticos para a família, como a rota provincial nº 23 para o “Lago del Desierto”, podendo ser feita de automóvel, bicicleta, moto etc.

No “Lago del Desierto” é possível fazer um percurso por trilha de 12km ou um passeio de barco pela extensão de todo o lago.

Enfim, existem uma série de atividades turísticas para todos os gostos, bem como também é possível, fazer um passeio para o Glaciar Viedma, trekking no gelo etc.

Não vou me estender muito, sobre tudo que é possível na vila de El Chaltén, pois meu foco aqui é detalhar sobre as trilhas que fizemos.

Um “merchan” grátis > Estando em El Chaltén, é quase que obrigatório a tomar um sorvete artesanal na Sorveteria Domo Blanco. Vale a pena, os sorvetes são saborosos de mais 😉

A região argentina, além do famoso Chorizo (corte do Contra Filé), vinhos e artigos em couro, também leva fama de possuir um dos melhores sorvetes do mundo. Experimentamos e podemos afirmar que, apesar de não ter experimentado ainda em outros países, sem ser o Brasil, realmente acredito nesse título.

Ah! Não deixem de comer um cordeiro Patagônico!

Algumas fotos de El Chaltén

Vamos ao Relato 😉

No dia 13 de janeiro de 2016, por volta das 22h10 chegamos em El Chaltén (Argentina).
Quem leu nosso relato sobre o Circuito O + W em Torres del Paine, notou que terminamos o trajeto no dia 12.

Renan viajou de Puerto Natales (Chile) para  El Calafate (Argentina) na mesma noite, pois não haviam mais passagens para o dia 13 pela manhã.
Rosana, Carioca, Mineiro e eu conseguimos passagem para o dia 13 pela manhã, porém Carioca e Mineiro já haviam comprado com antecedência.

Assim que chegamos em El Calafate, Renan já nos aguardava para comprarmos as passagens para El Chaltén.

Foi triste ele não ter participado da comemoração após Torres del Paine, com direito a cordeiro patagônico e vinho, mas foi vantajoso por ele ter ido antes, assim já adiantou as informações de passagens, que tratamos de comprar assim que desembarcamos.

Ainda ficamos algumas horas em El Calafate, antes de seguirmos para El Chaltén, o que foi útil para trocarmos os CLPs* por ARSs*.

* Tanto o Peso Argentino, quanto o Chileno, são representados apenas por $, então para facilitar o entendimento, usei no relato as siglas “ARS” e “CLP”

Assim que chegamos em El Chaltén, saímos em busca de um hostel com preço acessível.

Durante nossa “caçada” noturna por vagas, batemos a cara em muitas portas, pois ou estavam todos lotados, ou eram muito caros.

Tivemos a sorte de uma mulher nos abordar na rua e nos indicar o “Camping El Refúgio“, que foi bem baratinho e pelo preço de 80 ARSs (equivalia a aproximadamente R$ 23, pois R$ 1 = 3.4 ARS), por pessoa e por noite.

Camping bem legal, com banheiro, chuveiro quente, espaço para refeições, churrasqueiras e tomadas.

Na esquina da rua, da entrada do camping, existe um mercadinho, que lhe possibilita comprar unidades de rolo de papel higiênico e outras “miudezas”. Logo em frente, também há um mercado de porte pequeno, que também ajuda muito na hora de comprar comida e outras coisas.

1º Dia de atividade – Laguna Torre

No dia seguinte (14), tratamos de ir até a rodoviária para comprar antecipadamente, nossas passagens de retorno para El Calafate, fazer compras de comida para os dias de acampamento e mais tarde fazermos uma caminhada para a Laguna Torre.

Abaixo segue o tracklog de todas as tilhas que fizemos em El Chaltén
A maioria tem início a partir do acampamento El Refúgio:

Por volta das 13h, saímos do acampamento El Refúgio, para seguir em direção a “Laguna Torre”. É um percurso de aproximadamente 10km, sem muita elevação e leva-se em torno de 3h andando, com muita calma.

Classifico essa trilha como fácil, para quem já tem experiência e médio, para quem é sedentário.
Toda trilha em El Chaltén, possui um posto de controle no início, onde anotam quantas pessoas estão no local, dão orientações a respeito do percurso etc.

Abaixo algumas fotos

Após voltarmos para o acampamento, Carioca e Renan compraram bife de chorizo (nosso contra-filé) para assar na churrasqueira como jantar.

Churrasco de chorizo

Churrasco de chorizo

2º dia de atividade –  Passeio para os Mirantes Los Condores e Las Águilas

Nos dois dias subsequentes, no caso 15 e 16 de janeiro, precisei dar uma folga aos meus pés que estavam cheio de bolhas. No acampamento fizemos amizade com um montanhista do Paraná, André Luis Granato, que me deu uma força no tratamento das bolhas.

Rosana me fez comprar um par de crocs (aquele chinelo de borracha feio pra kct, porém confortável e que me custou em torno de R$ 144 ou 490 ARSs ¬¬) para poder ficar por lá, bem como fazer outras trilhas, e ela acabou herdando os chinelos, que encontrei no Refúgio Chileno, em Torres Del Paine.

Mesmo tirando uma folga, ainda fui com a Rosana para os mirantes “Los Condores” e “Las Águilas”, ambos são um ao lado do outro. Infelizmente não demarquei no tracklog esses mirantes, mas não há segredo em como chegar lá. Basta seguir para o posto de controle, que fica ao sul da vila e após a rodoviária, após cruzar o rio Fitz Roy, lá encontrará as placas indicativas.

Enquanto isso Renan, Carioca, Mineiro e os nossos amigos alemães, foram para a trilha do “Loma del Pliegue Tumbado”, que contarei mais detalhes sobre essa, mais adiante.

Algumas fotos dos mirantes

Vídeo de nossa chegada + Laguna Torre

3º dia de atividade – Trekking para o Poincenot e ataque a Laguna de los Tres

Após meus dias de folga, por volta das 8h no dia 17 de janeiro, partimos para acamparmos no “Poincenot”.

Seguimos o trajeto passando pela “Laguna Capri”, que fica há cerca de 5 km de distância desde o camping El Refúgio, ou +/- 2h de caminhada.
Da Laguna Capri até o “Acampamento Poincenot”, foi mais 1h de percurso, ou seja, chegamos às 11h30.

Para quem preferir, também é possível acampar na Laguna Capri, porém Poincenot é o ponto mais próximo para quem quer conhecer a “Laguna de los Tres” e “Laguna Sucia”.

Nem preciso dizer que o percurso é bonito de mais, cheio de belas paisagens, rios de águas cristalinas, que dão aquele ar de cenário de filmes da sessão da tarde.

Depois de montar acampamento e comer alguma coisa, 12h30 partimos para conhecer a Laguna de los Tres.
É uma caminhada um pouco íngreme em boa parte do trajeto, mas nada impossível, até mesmo para aqueles que estejam um pouco sedentários.

Chegamos na borda da Laguna de los Tres, por volta das 13h50, onde tivemos a companhia de um falcão andando entre as pessoas, sem apresentar qualquer reação de medo. Isso mostra como as pessoas que frequentam o lugar, no geral respeitam muito o meio ambiente e sua fauna.

Também não posso deixar de comentar sobre a Laguna, que possui uma tonalidade de azul turquesa sensacional. Ao chegamos perto, notamos que sua água é muito limpa e transparente, a tonalidade azul ocorre conforme aumenta-se a distância e profundidade.

Também fomos na outra borda, onde é possível avistar a Laguna Sucia por cima.

Nesse momento, avistamos um grupo de montanhistas, seguindo em direção ao Fitz Roy, com equipamentos de escalada para rocha e gelo.

Também vimos várias pessoas, com trajes de banho, tomando banho de sol à beira da Laguna de los Tres, bem como um grupo de pessoas pulando na água… que acredito, deveria estar com uns 3ºC de temperatura, haja visto que havia gelo nas bordas, ao pé da montanha.

Após isso, descemos para o acampamento, reencontramos os alemães que fizemos amizade em Torres del Paine, fizemos nossa janta e comemos todos juntos.

Algumas fotos desse dia

4º dia de atividade – Ataque a Laguna Sucia e trekking para Piedra del Fraile

No dia 18 de janeiro, por volta das 10h, seguimos para a trilha da “Laguna Sucia”, que em tradução livre, significa “Laguna Suja”.

De suja, a laguna não tem nada. Só aparenta ter uma cor azul turquesa, um tanto turva, porém ao se aproximar, percebe-se que é tão cristalina, quanto a Laguna de los Tres.

O percurso para a para a Laguna Sucia, não é tão demarcado e também não há sinalização para lá, no entanto, o trajeto é permitido. Pegamos algumas informações com o monitor (guarda parque) do Poincenot, para seguir no trajeto correto.

O monitor também nos fez assinar um termo de responsabilidade, que isenta o parque com relação a responsabilidade em caso de acidentes, haja visto que o visitante está seguindo por um trajeto, que não foi manejado para trilhas.

Por volta das 11h30, chegamos à Laguna Sucia, ficamos por lá um tempo, para tirarmos algumas fotos e depois retornamos ao acampamento.

Algumas fotos

Por volta das 14h50, partimos em direção ao “Mirante Piedras Blancas”.

No caso, Renan iria conosco até o mirante e voltaria ao acampamento Poincenot com os alemães, para visitar a “Laguna Madre” e “Laguna Hija”, enquanto Rosana e eu seguiríamos para “Piedra del Fraile” (“Pedra do Frade” em tradução livre) pela trilha “El Pilar”, pois queríamos subir até o “Piedras Negras”, que dá a visão da face leste do conjunto Fitz Roy, ou seja, a parte de trás.

São cerca de 40 minutos de caminhada desde o Poincenot até o Mirante Piedras Blancas, por uma trilha bem fácil de se caminhar e quase sem desnível.

Existe uma outra trilha, que leva ao “Glaciar Peidras Blancas”, porém atualmente encontra-se com acesso proibido. Essa mesma trilha proibida, também é um atalho para chegar mais rápido em “Piedra del Fraile”.

Algumas fotos

Por volta das 16h15, chegamos na divisa de trilhas do Parque Nacional Los Glaciares, onde inicia a trilha El Pilar, que é uma área privada.

O percurso até a divisa, conta com uma vegetação de bosque e anda-se bastante pela sombra, até chegar num trecho da encosta, onde fica-se mais exposto novamente e com belas paisagens.

O trajeto segue sempre paralelo ao “Río Blanco” e leva até a “Hosteria El Pilar”, onde chegamos por volta das 17h. É uma bela pousada, em um lugar quase isolado. Ótimo para casais que querem tranquilidade, conforto e com ar de montanha (ou seja, não é o nosso caso rs).

Cheguei a entrar para tirar algumas dúvidas sobre o percurso e fui muito bem atendido pelos donos. Muito amistosos, assim como qualquer morador de El Chaltén.

Algumas fotos

Após pegar algumas informações, seguimos o caminho ainda margeando o Río Blanco, até chegarmos na rota provincial 23, daí viramos a esquerda e seguimos até a ponte sobre o Río Elétrico (+/- 35 minutos desde a hosteria até a ponte).

A trilha para “Piedra del Fraile” inicia na lateral esquerda da ponte e há uma placa indicativa, informando a estimativa de 2h de caminhada.

Não há grandes dificuldades no percurso, nem sobre o terreno, nem navegação, pois tudo é muito bem aberto.

Há trechos na trilha, que água acaba invadindo e anda-se por ela. Logo no começo da trilha, após 100m da ponte, um afluente do Río Blanco cruza o caminho em direção ao Río Elétrico. A água é na altura do tornozelo, mas bem gelada.

Outros trechos, já mais próximo de Piedra del Fraile, também há água de degelo cruzando a trilha, em direção ao Río Elétrico.

Por ser uma trilha em área particular, e pelo preço que se paga em Piedra del Fraile para acampar (200 ARSs / pessoa. Mais caro que muitos hostels em El Chaltén), a trilha deveria possuir pontes, como ocorre no Parque Nacional Glaciares, que é gratuito. A única ponte que existe no percurso para Piedra del Fraile, é muito improvisada e não passa muita segurança.

#Dica: Durante o caminho existe muito gado, então tome cuidado sobre onde pegar água. Se achar realmente necessário pegar água por aqui, faça uso de clorin / hidrosteril.

Por volta das 19h50, chegamos ao acampamento Piedra del Fraile.

O acampamento tem um bom espaço, oferece banho quente e também há algumas mesas, que podem ser utilizadas para o preparo das refeições.

Eles também possuem alojamentos, pelo preço de 400 ARS / pessoa e servem refeições, mas se for fazer uso deste serviço, prepare o bolso. Uma pizza por exemplo, custa 150 ARSs ou R$ 44 na cotação da época.

Comprei apenas um refrigerante 7UP, pelo preço de 15 ARS, para acompanhar a janta de acampamento, pois meu corpo estava sentindo falta de beber porcarias. 😛

Algumas fotos

Vídeo resumo dos dias 17 e 18-01-2016

5º Dia de atividade – Ataque ao Piedras Negras

No dia seguinte, 19 de janeiro, por volta das 8h30, Rosana e eu saímos do acampamento para subirmos até o local conhecido como “Piedras Negras”.

O lugar é conhecido por esse nome, pelo fato óbvio de possuir rochas bem escuras. O Piedras Negras também serve como acampamento base para escaladores, que vem de toda parte do mundo, para subir o complexo de agulhas ao redor do Monte Fitz Roy.

A duração do percurso é de aproximadamente 3h e a subida, em boa parte do trajeto, é realizada por enormes blocos de rochas soltas. É preciso um certo cuidado ao pisá-las, pois não é difícil pisar em alguma que “resolva” sair rolando.

#Dica: Se estiver subindo acompanhado no trecho de rochas soltas, suba ziguezagueando e mantenha uma distância de mais de 2m, em paralelo um do outro. Desta forma, se alguma pedra rolar por uma pisada errada, não machucará ninguém.

Durante nossa subida, conhecemos também o montanhista Eduardo Maza, conhecido como “Formiga”, que estava descendo com seus amigos.
Pegamos algumas dicas,  jogamos um pouco de conversa fora e nos despedimos.

Em 29 de janeiro de 2016, os montanhistas Formiga, Waldemar Niclevicz e Branca Franco partiram da Vila de El Chaltén. para subir o Fitz Roy via Laguna de Los Tres. Atingiram o cume no dia 31 por volta das 12h30

Para ler a conquista dos três, acesse o relato no blog do Alta Montanha

Por volta das 11h40, já estávamos a poucos metros do Piedras Negras, então Rosana e eu paramos para brincar um pouco num trecho de neve antes de seguirmos.

Ao chegarmos em nosso objetivo, conhecemos canadenses, norte americanos e também outros brasileiros, que estavam acampados lá para fazer escalada.

Fora isso, tivemos uma boa surpresa, pois encontramos o André Luis Granato por lá também, pois pretendia fazer uma escalada no dia seguinte.

Lá no Piedras Negras, encontra-se o “Glaciar Cerro Elétrico”, também é possível avistar o “Gorra Blanca” (pico da cadeia de montanhas que faz divisa com Chile e que também faz parte da “Volta ao Gelo Continental Patagônico Sul” ), o “Paso del Cuadrado”, que até é possível subir de botas convencionais, porém é recomendado o uso de crampons e cordas por segurança. Como Rosana estava de chinelos, acabamos não arriscando a ida.

Um pouco de história:

Conversando com os outros montanhistas brasileiros, nos contaram que o Monte Fitz Roy, na verdade leva também o nome de “Cerro Chaltén”. O que explica o nome da vila.

Cerro Chaltén foi registrado inicialmente pelos argentinos, mas quando os ingleses foram para a região, rebatizaram de Monte Fitz Roy, em homenagem a Robert FitzRoy, capitão do navio HMS Beagle, das expedições de Charles Darwin.

Depois de jogar um pouco de conversa fora, descemos para o acampamento e por volta das 15h50, já estávamos deixando Piedra del Fraile e seguindo de volta para a ponte sobre o Río Elétrico, onde chegamos às 17h20.

Por sorte, conseguimos uma carona para El Chaltén, com uma moradora da vila.

Ela havia levado seu marido e amigos de carro até a ponte, para que eles descessem o rio de caiaque. Ela foi muito simpática e amistosa em nos ajudar, pois economizamos cerca de 17km de caminhada até a vila.

Abaixo algumas fotos

Vídeo resumo

6º dia de atividade – Passeio para Lago del Desierto

No dia 20 de janeiro, por volta das 8h30, Renan, Rosana e eu fomos para o acesso da rota provincial 23 em El Chaltén, em busca de uma carona para o “Lago del Desierto”.

Ficamos na espera por umas 2h30 antes de conseguirmos e durante esse tempo, várias pessoas passaram por nós, algumas fazendo sinal de carro cheio e outras com carro vazio, mas que não quiseram dar carona.

Um outro fato inusitado, foi um morador local, bem humorado e piadista, que passou por nós, fez meia volta com o carro, parou e gritou:
– “El Chaltén es la capital nacional del trekking!” – Deu risadas e foi embora rs.  

Ok… mantivemos nosso bom humor. 😛

Conseguimos carona com uma família bem legal e divertida de Buenos Aires e foi um passeio ótimo, cheio de risadas e que nos resultou em novas amizades.
Espero poder reencontrá-los um dia, ou até mesmo retribuir a carona e o dia divertido que tivemos.

Nosso passeio seguiu e logo fizemos a primeira parada para conhecermos a cachoeira “Chorillo del Salto”, que fica há cerca de 3km desde a saída da vila de El Chaltén, na rota provincial 23. É uma bela cascata e sua visitação é aberta durante todo o ano.

De lá seguimos para a “Plaza Soberanía”.

Um pouco de história:

Este é um ponto onde há um marco em homenagem à história, de uma disputa territorial com o Chile, que ocorreu na década de 60. A disputa englobava desde a região do Lago del Desierto, metade do Río de las Vueltas e o Monte Fitz Roy.

O conflito teve início devido a escassez de informações, sobre os limites territoriais, informados em um tratado assinado em 1881 entre os dois países. O ponto alto do conflito, foi marcado pela morte do Tenente chileno, Hernán Merino Correa, em 6 de novembro de 1965.

A disputa foi resolvida apenas em 21 de outubro de 1994 e oficializada em 13 de outubro do ano seguinte, quando o tribunal que jugou o caso negou o pedido de reconsideração por parte do Chile.

Da Plaza Soberanía, seguimos para a cachoeira  “Salto Argentino” ou “Cascada Río de Las Vueltas”.

Nossa penúltima parada foi a “Estancia Lago del Desierto”, onde a família argentina foi visitar o “Glaciar Huemul”.

Como o glaciar fica em uma propriedade privada, é cobrado o valor de 150 ARSs para a visitação, então decidimos não os acompanhar para economizar e também porque, desde nossa chegada à Patagônia, já havíamos visto muitos glaciares.

Em frente a propriedade, passa o Río de las Vueltas que nasce do lago del desierto, com uma água muito cristalina, onde é possível ver trutas nadando.

Também é permitida a pesca esportiva na região, porém com uso de anzol sem farpa, para que seja fácil soltar o peixe “sem machucá-lo”.

Por volta das 17h, chegamos ao Lago del Desierto.

Como citei lá no início, é possível realizar uma trilha de 12km, ou passeio de barco por toda a extensão do lago.

Não chegamos a fazer nem a trilha e nem o passeio de barco, pois ficaria tarde para o regresso, e como estávamos na dependência da carona, também não cogitamos de fazer parte do trajeto sem eles, então tiramos algumas fotos e regressamos para El Chaltén.

Após nosso regresso, queríamos pagar pela carona, porém não aceitaram de forma alguma. Agradecemos por tudo e fomos ao acampamento, para tomarmos um banho.

Esse também foi o último dia do Renan conosco na Patagônia.

Ele precisava retornar antes de nós, porque já tinha o compromisso de ir ao casamento de seu cunhado. Então à noite, fomos comer uma pizza no restaurante Ahonikenk como forma de despedida.

Esse restaurante tem um preço bem acessível e o dono apesar de ser argentino, é corintiano.

Ao contrário de todo o preço praticado na região da Patagônia Argentina, o gasto não ficou fora do que estamos acostumados em São Paulo e o Renan ainda ganhou um pudim de sobremesa, por cumprimentar o dono e falar que também era corintiano rs rs.

Seguem fotos desse dia

Vídeo resumo

7º dia de atividade – Trekking para Laguna Toro

No dia 21 de janeiro, por volta das 8h50, Rosana e eu iniciamos a nosso último trekking por El Chaltén.

Nosso objetivo era a “Laguna Toro”, passando pelo pico “Loma del Pliegue Tumbado” (Pequeno monte de terra dobrado / deitado, em tradução livre) na ida, onde lá é possível ter uma visão de 360º da região de El Chaltén e sua cadeia de montanhas.

Essa é uma das poucas caminhadas que necessita solicitar autorização antes de prosseguir. Digo poucas, pois a partir da Laguna Toro existem dois percursos mais técnicos, que são o “Paso del Viento“, que necessita de equipamentos para escalada e gelo, bem como a “Vuelta al Huemul“, que também inicia pela Laguna Toro e passa pelo Paso del Viento.

Nosso amigo Marcelo Sousa, quando esteve em El Chaltén em 2015, fez a Vuelta al Huemul sem uso de equipamentos de escalada ou para gelo.
O percurso leva o total de cinco dias e ele havia pego a autorização, seguiu o caminho com outras duas pessoas, mas que desistiram na Laguna Toro, porém ele resolveu seguir sozinho. Completou tudo com êxito, mas quase levou uma multa por não ter regressado com os outros desistentes.

Voltando sobre a autorização…

Você deve solicitar a autorização no “Posto de Controle” (o posto está demarcado no tracklog), localizado ao sul de El Chaltén, após atravessar a ponte sobre o Río Fitz Roy (a ponte fica bem perto da rodoviária).

Por volta das 9h35, já estávamos devidamente autorizados e seguimos pela rota, que inicialmente é a mesma que dá acesso aos mirantes Las Águilas e Los Condores, mas depois bifurca sentido Noroeste (mais oeste que noroeste).

Assim como qualquer trilha de El Chaltén, tudo é bem demarcado, então é uma caminhada de navegação muito fácil.

Às 11h chegamos no ponto onde a trilha bifurca, indicando numa placa, as direções para o Loma Del Pliegue Tumbado e Laguna Toro.

Deixamos nossas mochilas na mata, já na direção da Laguna Toro e seguimos para o Loma.

Às 12h40 já estávamos no topo, onde tínhamos uma bela vista de toda a região, e as poucas nuvens no céu, faziam desenhos bem bonitos, com suas sombras nos pequenos montes ao redor, dando assim, um toque mais especial à vista do alto do Loma del Pliegue Tumbado.

É uma sensação incrível estar ali e poder ver boa parte da cadeia de montanhas, desta região da Patagônia Argentina.

Algumas fotos:

Às 13h30 começamos nossa descida, a fim de pegarmos nossas mochilas no local onde havíamos deixado e seguimos para a Laguna Toro (+/- 1h até o ponto das mochilas).

O percurso desse ponto em diante, segue por campos verdejantes e floridos, muito bonito.

Também há um trecho de bosque que antecede um charco, que à primeira vista, parece apenas um simples gramado.

Já nos trechos finais, próximo ao acampamento da Laguna Toro, existem três travessias pela água de degelo, que faz parte do “Río Tunel”, sendo uma delas com altura até os joelhos.

Por volta das 18h, já estávamos chegando no acampamento, onde montamos nossa barraca e fomos dar uma volta ao redor da Laguna antes de preparar o jantar.

No dia seguinte, ainda demos um passeio maior pela região da laguna, fomos até o trecho onde encontra-se a tirolesa, que é o ponto inicial para quem faz o trecho do “Paso del Viento” ou para quem inicia o percurso da “Vuelta al Huemul”.

Também é possível atravessar a água sem usar a tirolesa. Para isso, basta subir um pouco o curso do rio, onde haverá uma correnteza bem mais fraca e rasa, que será possível atravessar sem problemas. Foi isso que o nosso amigo Marcelo Sousa fez, em sua empreitada em 2015.

Algumas fotos:

Vídeo resumo

Gostaria de encerrar esse relato, com agradecimentos ao Marcelo, que nos ajudou com muitas dicas, desde nossa logística, bem como os pontos mais bacanas de El Calafate para se conhecer, Torres del Paine e El Chaltén.

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Muito obrigado Marcelo!

Digo em nome de todos, que é um grande desejo voltamos a trilharmos todos juntos.
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Grande abraço!

A viagem pela Patagônia é algo que lembrarei pelo resto de minha vida!

Lembrarei tanto pela beleza da região, quanto pela facilidade em se fazer amigos por todas as partes que se passa e de todas as partes do mundo.
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Tivemos a oportunidade de conhecer outros brasileiros, alemães, franceses, canadenses, norte americanos, chilenos, argentinos, espanhóis, japoneses, tchecos e eslovacos.
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Realmente é um belo encontro cultural, que de alguma forma me fez lembrar da época do escotismo.
Nunca tive a chance de participar do Jamboree mundial, participei do Pan-americano em 2001 e a sensação de se fazer amizades, com pessoas divertidas de outras partes do mundo, é muito semelhante.

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Esta viagem me deixou um gostinho de não ser mais que um até logo e não ser mais que um breve adeus. Que bem cedo, juntos, voltaremos à Patagônia.

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Música da despedida Escoteira:


Veja todas as fotos desse passeio, em nosso álbum no flickr.

Leia também:

 


Rodrigo Hortenciano

Designer gráfico, com MBA em Marketing, atuando atualmente com como analista de mídias sociais. Sempre que possível gosto de fazer uma trilha, acampar, ou viajar para algum lugar longe da muvuca e geralmente gastando bem pouco ;)

7 comentários

Rodrigo Hortenciano · 25 março, 2019 às 9:36

Oi Paula! Tudo bem?
Eu preferiria responder essa dúvida, no post sobre Torres del Paine, haja visto que este é sobre El Chaltén.
Peço que nas próximas dúvidas, por favor concentre a pergunta no post referente ao tema, pois as respostas ajudam outras pessoas, que possam ter as mesmas dúvidas que você. 😉

Como você falou, agora é preciso fazer a reserva com antecedência.
O ano que fomos, foi o último que podia-se ir sem fazer reserva, mas também foi o ano que o parque ficou mais lotado e por isso, essas medidas foram tomadas.
O relato sobre Torres del Paine, também está atualizado quanto aos passos para se fazer a reserva.

Sobre a escolha trajeto, eu recomendaria fazer o mesmo que fizemos, seguindo para Serón e finalizando nas Torres, pois dá aquela sensação de finalizar com chave de ouro.

Também vai depender muito do ritmo e do horário que vão começar a caminhar.
Quando fomos, conhecemos um casal que havia nos recomendado seguir para a Base das Torres e seguir de lá para o Serón.
Se vocês pegarem o Transfer que sai da portaria da Laguna Amarga que e que leva até próximo ao acampamento Central ou Refúgio Las Torres, dá pra adiantar um bom trecho de caminhada e seguir para a Base das Torres.
Vocês podem deixar as mochilas no Acampamento Central e de lá seguir para a Base.
Depois desce, e fica no Central e no dia seguinte segue para o Serón.
É uma forma de se dividir a caminhada e talvez demande um dia a mais de trajeto para completar o circuito.

Dependendo do ritmo de vocês, dá pra seguir para a Base das Torres e Serón no mesmo dia, mas particularmente, acho essa logística um tanto cansativa, pois adicionam 15km (ida e volta) de caminhada no mesmo dia, além do trecho de 14km que precisará andar até o Serón. Mas não quer dizer que não seja possível. Esse tracklog poderá te dar uma certa dimensão do trajeto:
https://es.wikiloc.com/rutas-senderismo/campamento-base-las-torres-seron-15654021

Leve em conta que que no trecho dos 7,5 km seria o seu desembarque do transfer desde a Laguna Amarga, então vc deve olhar o gráfico de altimetria desse trecho para a esquerda, que segue em direção à Base das Torres, depois voltariam os mesmos 7,5 km e seguiria para o Serón.

A parte da obrigação prévia de reserva, não deixa muitas escolhas do que se vai fazer com a logística.
Então para ajudar, recomendo que divida seu percurso com limite de até 20km de caminhada por dia, que foi mais ou menos o que fizemos.
Como vocês irão na primavera, já irão pegar os dias com duração de luz do sol maior, então não terão grandes preocupações com horário de chegada nos acampamentos.
Tente sempre sair pela manhã até umas 9h, para que o dia de percurso renda sem muita pressa.

Acho que é isso
Espero ter ajudado de alguma forma!
Um abração!

PAULA · 24 março, 2019 às 8:34

Certamente chamarei, rs. Algumas coisas mudaram desde que vocês foram a Torres, por exemplo, agora é obrigatório fazer TODAS as reservas de campings antes da viagem, não tendo margem para uma eventual flexibilidade, por isso terei que me planejar bastante antes. O que você me aconselha, no primeiro dia seguir para o acampamento Serón, como vocês fizeram, ou acampar no Central e já fazer o ataque para o mirante das torres? Desde já, agradeço…

Rodrigo Hortenciano · 22 março, 2019 às 17:21

Oi Paula, tudo bem?
Valeu pelo seu retorno e agradecimento! 🙂
Fico feliz que as informações da Chapada Diamantina ajudaram bastante!
Sobre a Patagônia, assim que chegamos, fomos conhecer Perito Moreno, então não foi nenhuma decepção. Mas mesmo que tivesse ido após Torres del Paine e El Chaltén, eu teria ido.
Vale a pena sim, principalmente para ver as quedas das enormes paredes de gelo. Só estando lá pessoalmente mesmo para ter ideia de como é.

Sobre Torres Del Paine e El Chaltén, eu gostei mais de El Chaltén sim, mas não quer dizer que eu não tenha adorado Torres del Paine também.
No caso de Torres del Paine, já tem todo um circuito muito bem definido e você não tem liberdade de fazer dois pernoites no mesmo lugar por exemplo, pois devido ao alto fluxo de visitantes, não podem permitir que seja feito desta forma, se não causaria super-lotação em alguns acampamentos.
Com certeza vale a pena sim fazer o circuito O. No caso quando falamos O+W, o O já engloba o W. É que para ajudar nas buscas do tema na internet, coloquei o nome O + W.
O “W” nada mais é que os trechos de ataque aos pontos mais altos, sendo as bases de acampamento nas bordas do “O”.
Existem visitantes que preferem fazer do esse trecho do W, mas sinceramente eu acho um baita desperdício ir para o parque e fazer só o W.
A paisagem é muito bonita para qualquer lado que você olhe, tudo é muito cenário de filme. Você meio que se sente num filme da sessão da tarde andando lá rs
Sobre eu Chaltén, eu gostei mais por causa da liberdade de se fazer seu próprio roteiro. Então dá pra definir seus destinos estando por lá, caso alguma rota planejada, precise ser adiada por algum motivo.
No tracklog de El Chaltén, estão praticamente todas as trilhas a pé do lugar. Eu digo praticamente, pois existe outra rota próximo da Laguna Capri que não passei, bem como a Laguna Madre e Hija que também não fui. Porém a essência de El Chaltén está resumida no tracklog e com certeza quem o seguir, verá das melhores paisagens e lugares para se acampar.
No caso de El Chaltén, eu excluiria talvez a Laguna Toro, mas manteria o Loma del Pliegue Tumbado.
A laguna Toro, faz parte do início de um outro trajeto na região, chamado de “Vuelta al Huemul” e essa volta, está nos meus planos para quando eu retornar à região.
Tem pessoas que incluem a Laguna toro no Trajeto e fazem o início do trajeto da Volta do Huemul, seguindo até o Paso del Viento e regressando. O parque “exige” que se use equipamento para tirolesa para ir, mas não há necessidade, pois é possível cruzar o rio, num trecho raso e sem correnteza mais acima de seu fluxo. Nesse trecho também não costuma ter fiscais do parque, devido a distância com o centro-base dos guarda-parques.
outro ponto que talvez valha não incluir em El Chaltén, seja Piedras del Fraile para subir até a bse do lado de trás do Fitz Roy. Esse trecho é chamado de Piedras Negras e costuma ser usado de acampamento base para escaladores.
Não vou dizer que não vale a pena, mesmo porque, se eu tivesse indo a 1ª vez para a região, com certeza eu iria querer conhecer, pra não voltar pra casa me perguntando se valeria a pena e se fiz besteira em ter deixado para trás. Mas claro que numa segunda ida para a região, eu já não incluiria o Piedras Negras.

Em fim, pra resumir, tudo vale a pena rs
Se você for em todos os que citei no relato, com certeza não vai se arrepender.

Qualquer dúvida, é só chamar.
Eu sinto tanta saudades dessa região, que cada momento que passei por lá, está muito vivo na minha memória.
É quase uma saudade que sentimos de casa, quando estamos muito tempo longe.
Forte abraço!

Paula · 22 março, 2019 às 16:39

Quanto a el Calafate, vocês só visitaram o Perito Moreno? Depois de fazer o circuito O e el Chalten o Perito Moreno não ficou meio sem graça não? Mudariam alguma coisa no roteiro se fossem novamente? Algum lugar que acharam que não valeu a pena?

Paula · 22 março, 2019 às 15:12

Olá Rodrigo, que maravilha de relato heim!!!! Primeiramente gostaria de agradecer a força que vc me deu o ano passado, com os relatos e compartilhamento do tracklog do Vale do Pati, foi tudo bem exato. Muito obrigada. E agora vim te sugar mais um pouquinho, rsrs. Eu e meu marido vamos fazer a Patagônia no fim do ano, estamos pensando em Nov ou Dez, para fugir da alta temporada, também vamos fazer el Chalten e o circuito O. Estou apaixonada pelas suas fotos de El Chalten, o lugar parece ser maravilhoso….. confesso que tinha uma grande espectativa com Torres del Paine, mas vendo suas imagens parece que El Chalten é mais bonito que Torres. O que vocês acharam?

Patagônia - El Calafate e Puerto Natales | Exploradores · 17 outubro, 2016 às 8:14

[…] janeiro de 2016 com destino a El Calafate – Argentina. Para quem vai à Torres del Paine e ou El Chaltén, El Calafate é um dos principais destinos. A melhor opção para quem vai a Torres del Paine, é […]

Circuito O + W - Torres del Paine | Exploradores · 17 outubro, 2016 às 7:37

[…] É possível conhecer a Patagônia Chilena e Argentina na mesma viagem, podendo ser iniciada em El Calafate como foi o nosso caso, visitar e ou fazer um trekking no gelo do Glaciar Perito Moreno, bem como conhecer também, a cidade de El Chaltén, que conto mais detalhes no relato: “Trekkings de El Chaltén“. […]

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