Este é um roteiro bastante conhecido entre os trilheiros e geralmente leva o nome de “Travessia do Lagamar”. Inclusive, o meu primeiro contato com informações sobre esse trajeto, foi há muitos anos atrás, por meio do relato do amigo, Augusto, que pode ser lido em seu blog também.

Diferente da rota adotada pelo Augusto em 2008, a nossa intenção era fazer desde a Ilha do Cardoso e terminar na ilha do Mel.

Optamos por fazer desta forma, pois em 2019, Rosana e eu já havíamos conhecido o trecho nordeste da da Ilha do Cardoso (Praia do Pereirinha até o Marco do tratado das Tordesilhas).

Ou seja, seria uma continuação praticamente de onde paramos, apenas pulando o trecho de travessia do costão e iniciando na Praia do Cambriú.

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Sem mais delongas, esse é o tracklog gerado do percurso que fizemos:

Como o wikiloc tem uma limitação de até 50 waypoints, você pode baixar o GPX completo diretamente deste link.


Algumas informações prévias sobre o roteiro:

Atrativos:

  • Praias desertas, paisagem, fauna e flora litorânea bastante diversa e conservada.

Custos:

  • Custo de barco desde Cananeia até a Praia do Cambriú: R$ 360 no total (feito diretamente pelo Sr. Carlos, proprietário da Pousada Camboja);
  • Custo médio dos campings do trajeto: R$ 40/ pessoa;
  • Custo médio de travessia de barco em outros trechos: R$ 50/pessoa.
  • Transporte da Ilha do Mel para Paranaguá: R$ 53/pessoa (há desconto para moradores, então se fizer amizade com algum, pode ser uma boa pedida pedir para alguém comprar)

Cuidados:

Vídeo resumo do trajeto:

Caso queira ver todas as 300 fotos que tiramos, acesse ao nosso álbum no flickr.


Em 12 de janeiro de 2022, iniciamos a nossa jornada rumo à Cananéia. Tivemos a sorte de o dono da Pousada Camboja, que fica na Praia do Cambriú, ter tido a necessidade de se deslocar até a cidade de Registro-SP, então acabamos pegando uma carona de carro desde lá até Cananéia. O que nos economizou cerca de 2h de viagem, pois o ônibus de Registro para Cananéia, ainda iria demorar 2h para chegar.

Fomos todos almoçar e depois nos dirigimos para os fundos do CEAGESP em Cananéia, onde embarcamos em direção à Ilha do Cardoso.

Após uma viagem de quase 1h de barco, desembarcamos na Praia do Cambriú às 16h.

Estava uma ótima tarde, então Rosana e eu aproveitamos para conhecer um pouco da praia e nos deparamos com algumas carcaças de animais marinhos, como filhote de baleia, golfinho e tartaruga.

É triste ver cenas como esta, mas ao mesmo tempo é positivo, pois mostra que a região é uma rota bastante ativa para a fauna marinha.

Durante a nossa estadia, Carlos, proprietário do Camping e Pousada Camboja, nos comunicou que a Vila de Marujá foi fechada devido a um surto de Covid-19 e que não seria possível pararmos na região para acampar.

Por sorte, ele tinha o contato do Márcio, dono do Camping e Pousada Recanto Ararapira, que comunicou que lá na Barra da Ararapira não havia restrição. Então, acertamos o local de encontro, na área onde abriu a nova saída para o mar, localizado na antiga região da “Enseada das Baleias”.


No dia seguinte, 13 de janeiro, por volta das 6h30, iniciamos o nosso 1º dia de caminhada.

O dia estava nublado com chuvisco fraco, que logo parou, dando lugar somente ao céu nublado. O que foi bom, pois tivemos a sorte de andar todo o trajeto por praias, sem ser castigado pelo sol.

Logo no trecho inicial da pernada, na parte que faz a divisa entre Praia do Fole Pequeno com a Praia do Fole, acabamos passando batido pelo ponto correto de cruzamento do morro e cruzamos passando por vegetação de espinhos, que só demos conta, chegando na crista desta divisa, quando encontramos a trilha correta.

Esse trecho já foi corrigido no tracklog. Então preste a atenção no ponto “Cruze por aqui”. 🤗

Após cruzar a Praia do Fole, há outro trecho de costa, que faz a divisa com a Praia da Lage e esse já estava bem melhor demarcado.

Inicialmente, havia planos para conhecermos as Piscinas da Lage, numa pequena trilha de 100m na Praia da Lage adentrando a mata, mas como precisaríamos estender a caminhada além de Marujá, preferimos seguir adiante. A nossa intenção nesse dia, seria tentar chegar até a Ilha de Superagui para no dia seguinte, seguir para a Ilha das Peças.

A ideia incialmente, era fazer a caminhada pelas quatro ilhas:

  • Ilha do Cardoso, Ilha de Superagui, Ilha das Peças e Ilha do mel.

Por volta das 9h50, chegamos à Praia de Marujá, que foi o maior trecho de praia caminhado neste dia.

Por volta das 12h45, chegamos ao local combinado, na antiga Enseada das Baleias, para pegarmos o barco e resolvemos acampar no Recanto Ararapira

Nesse dia andamos cerca de 18km no total.

Lá, ficamos sabendo que a comunidade na Ilha de Superagui também estava fechada devido a surto de Covid, então novamente precisamos adaptar o roteiro. Ficamos esta noite na Barra da Ararapira-PR e o planejado para o dia seguinte, seria tentar seguir para Superagui, mas pegar um barco pra Ilha das Peças.

O Recanto Ararapira, como já citado, fica localizado na Barra da Ararapira. Esta região já está localizada na Ilha de Superagui-PR, porém é o extremo nordeste da ilha e a vila principal da ilha, fica na ponta sudoeste.

Nesse dia, a vigilância sanitária também estava atracada em frente à Pousada recanto Ararapira e fomos questionados sobre o nosso trajeto, bem como recebemos orientações referente a locais fechados pelo surto e que deveríamos evitar.

Eles estavam no local para vacinar a população da barra da Aararapira e a Rosana aproveitou para tomar a 3ª dose da vacina de Covid.

Ter ficado acampado no Recanto Ararapira foi um ponto bem estratégico do percurso, sem contar que o lugar é muito bonito, fomos extremamente bem recebidos e recomendo a hospedagem no local, assim como também recomendo a Pousada Camboja, onde ficamos a nossa 1ª noite.

Atualmente, com a formação do Golfo nesta região, devido a mudança da saída do rio para o mar, esta área tem sido um dos locais preferidos dos golfinhos para caçarem pequenos peixes. No entardecer e amanhecer, também é possível observar a revoada dos Guarás. Então fica a dica para o pernoite neste ponto.😉

Algumas fotos deste dia:

Às 6h45, do dia 14 de janeiro, partimos de barco pilotado pelo próprio Márcio do Recanto Ararapira, para nos levar até o outro lado da margem, para continuarmos a nossa caminhada.

Ele nos deixou no trecho que faz a divisa entre o estado SP e PR e desta forma, começamos a nossa caminhada, no trecho nordeste da Ilha de Superagui.

Assim como no dia anterior, tivemos a sorte de andar com céu nublado.😎

Nesse trecho não tem segredo, basta seguir sempre pela praia em direção ao sudoeste, são cerca de 21,5km de praia deserta antes de chegar no ponto de acesso à vila, pela trilha em meio à vegetação de restinga.

Confesso que esse foi o dia mais monótono de percurso, pois é a mesma sensação de se andar em um deserto. Sempre a mesma paisagem durante um longo período de caminhada e de vez em quando, nos deparávamos com alguma carcaça de animal marinho morto, como golfinhos, filhotes de baleias, ou mesmo tartarugas.

Por volta das 12h15, adentramos a trilha de acesso à vila de Superagui.

Quando já estávamos na região de vegetação mais alta, o sol apareceu forte, porém foi possível andarmos pela sombra até o nosso próximo local de pernoite.

Por volta das 13h40, chegamos ao Camping da Flávia, que acabou “quebrando o nosso galho” em nos deixar acampar.

O que foi ótimo, pois eu estava com boa parte dos pés esfolados pela areia ou com bolhas… Cometi uma falha de principiante ao fazer a travessia usando papetes sem meia.

Então fica a dica! Se for fazer o trajeto usando papete, use meias para evitar esfolamento e bolhas nos pés.

Se não fosse possível acampar nesse local, seguiríamos até o trapiche da praia, para pegar algum barco para a Ilha das Peças ou Ilha do Mel.

Do trecho de acesso à trilha na praia até o camping da Flavia, foram cerca de 3,5km.

Somando todo o trajeto, desde onde o Marcio nos deixou até o camping da Flavia, são 25,1km.

Durante a nossa estadia no camping, perguntamos aos moradores se valeria a pena fazer a caminhada pela Ilha das Peças. Afinal ao olhar pelas imagens de satélite, não parecia ter nada muito diferente do que já havíamos visto nos últimos mais de 21km de praia deserta.

O morador disse que é bonita, mas que assim como o trajeto que vimos, realmente não teria nada muito espetacular, tirando o fato de uma antiga torre na areia.

Ainda assim, ficamos na dúvida, afinal o objetivo era completarnos as quatro ilhas.

Algumas fotos deste dia:

Por volta das 6h15, do dia 15 de janeiro, nos despedimos do camping da Flávia e nos dirigimos para a praia, a fim de pegarmos o barco.

Nesse momento, ainda tínhamos em mente o objetivo de seguir para a Ilha das Peças, porém no percurso de barco, optamos por seguir para a Ilha do Mel.

Optamos por pular a Ilha das peças, por alguns motivos:

  • Durante o trajeto de barco, estávamos visualizando a paisagem da ilha e não era nada diferente do que já tínhamos andado no dia anterior e apesar de a caminhada ser mais curta, sendo cerca de 11km, não estava nos animando seguir para a mesma.
  • O custo para o barqueiro nos deixar lá era de R$ 50/ pessoa e a gente teria de pagar esse mesmo valor para sair da Ilha das Peças, para ir para a Ilha do Mel, ou seja, um custo de R$ 200.
  • O valor, tanto para o barqueiro nos deixar na Ilha do Mel quanto nas Peças, seria de R$ 50/ pessoa. Não havia diferença de preço só porque a Ilha das Peças tinha uma distância de apenas 1km desde a margem que estávamos.

Por volta das 7h15, desembarcamos na Ilha do Mel à 500m ao norte do cemitério e iniciamos a nossa caminhada, rumo ao norte, para fazer a maior parte do percurso já na parte da manhã.

Logo nos primeiros passos, avistamos a torre Radio farol da Marinha, onde paramos para tirar algumas fotos.

E continuamos o percurso, agora rumo ao oeste da Ilha, passando pelas Praias do Cassual e Ponta do Hospital.

Vale contar que em todo o nosso percurso fazendo a volta, foi possível avistarmos golfinhos nadando próximo à margem.

Passando esse trecho, começamos a andar em um terreno de atoleiro. A maré havia baixado, e o solo estava bem pantanoso e era bem comum afundar até parte da canela.

São quase 2km de caminhada nesse tipo de terreno, mas se prestar a atenção no trecho de mata logo ao lado, será possível avistar uma trilha por ela, que aparentemente evita todo esse trecho de atoleiro.

Até chegamos a andar alguns trechos por ela, porém logo se fechava e voltávamos para a areia. Possivelmente a rota estava com pouco uso e com isso a vegetação havia crescido novamente.

Este também é um trecho, onde lemos que na região dos alagados da mata, vivem jacarés e que possivelmente poderíamos encontrar algum na areia. Porém, não vimos nenhum e nem pegadas, ou rastros.

Neste ponto da ilha, também é possível avistar o Porto de Paranaguá, bem como o Pico Paraná distante ao fundo, atrás da Serra do Feiticeiro.

Há poucos metros do trecho de atoleiros, chegamos à Vila da Ponta Oeste. Aqui vale fazer uma parada para um lanche, ou tomar alguma bebida.

Seguimos adiante e por volta das 11h20, já estávamos completando a nossa meia volta, passando pela Praia do Limoeiro, já pertinho do Istmo e então procuramos um camping para nós.

Assim como nos dias anteriores, andamos com o céu encoberto e somente depois de ter chegado a um camping é que o sol apareceu forte.

Ficamos acampados no Camping Billy Mar, fizemos nosso almoço e depois fomos curtir a praia.

Mais tarde, fomos conhecer o centrinho.

Algumas fotos deste dia:

Às 7h da manhã, do dia 16 de janeiro, partimos para conhecer o restante da Ilha, tendo como objetivos:

  • Gruta das Encantadas
  • Farol das Conchas
  • Fortaleza Nossa Sra. dos Prazeres

Vale ressaltar que estávamos levando em conta a tábua das marés, para decidir o nosso primeiro destino, pois já estávamos cientes que no trecho de divisa, entre a Praia Grande e Praia do Miguel, precisaríamos cruzar por rochas e o ideal, é ser feito com a maré baixa.

Havia previsão de maré alta por volta das 15h, então precisávamos aproveitar o tempo ao máximo.

A ilha também possui alguns mirantes que não chegamos a conhecer, como:

  • Ponta do Joaquim
  • Cruzeiro São Francisco de Assis
  • Mirante no Morro das Encantadas

No lado Sudoeste da Ilha, também há outras praias que não fomos conhecer, como:

  • Praia das Encantadas
  • Praia do Bananal
  • Praia do Belo

Estes pontos estão sinalizados no arquivo GPX, já mencionado no início do post e também há sinalização pela ilha, para conhecê-los.

Diferente dos dias anteriores, o dia estava bem ensolarado. Porém desta vez estávamos seguindo sem as mochilas, apenas fazendo o percurso bem leve, levando água, algum lanche e câmeras fotográficas.

A Ilha do Mel me surpreendeu com a beleza e realmente valeu a pena deixá-la para o final.

Ela é um destino comum para moradores do Paraná e como era domingo, haviam muitas pessoas aproveitado as praias na Ilha.

Por volta das 8h30, já havíamos cruzado a Praia Grande, Praia do Miguel e o Morro do Sabão e fizemos uma breve parada na “Bica do Norinho” para nos refrescar e completar nossa água.

Continuamos seguindo e por volta das 9h30, chegamos à Gruta das Encantadas.

Este certamente é um dos pontos mais visitados da ilha e estava lotado.

Tiramos algumas fotos e seguimos o nosso caminho de volta, para ir em direção ao farol.

Passando pelo centrinho comercial da ilha, em direção ao farol, fizemos uma pausa pra tomar um açaí, para dar mais uma refrescada.

Seguindo adiante, subindo o percurso em direção ao farol, é possível vislumbrar boa parte da ilha, a paisagem ao redor e o imenso oceano ao leste. Realmente valeu a pena subir para olhar o trajeto que percorremos por toda a ilha.

Por volta das 11h50, já estávamos no alto, ao pé do farol após fazermos algumas fotos, partimos em direção à Fortaleza Nossa Sra. dos Prazeres.

Por volta das 13h10, já estávamos na entrada do forte e foi muito legal conhecer mais esse pedacinho da história do Brasil.

A Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres, foi erguida entre os anos de 1767 e 1769, tendo sido inaugurada em 25 de março de 1769.

Originalmente equipada com artilharia com duas peças (canhões) de calibre 24 libras, duas de 18 e duas de 12.

No primeiro reinado, devido aos ataques de corsários argentinos, foi rearmada com doze peças dos calibres 30 a 18 (1826), para ser novamente desarmada pela Regência ao final de 1831

Fonte: Wikipedia

No forte, é possível observar alguns dos canhões, as áreas onde combatentes ficavam posicionados para atirarem nos inimigos, que se aproximassem pelos cantos do forte, a área de prisão e também é possível visitar a parte alta no “Morro das Baleias”, hoje chamado de “Morro da Fortaleza”.

Lá também há artilharia posicionada de forma estratégica, que eram acessadas por uma série de corredores com rampas. Mais uma vez, recomendo muito a visita!

E foi aqui que a gente encerrou a nossa volta à Ilha do Mel.

Gostaria de deixar também a dica de locação de bicicletas no centrinho comercial da Ilha, pois muitos dos atrativos podem ser visitados pedalando.

Inclusive, é possível pedalar do Istimo, fazendo a volta na ponta Oeste e visitar o forte, fazendo o trajeto de volta pela Praia da Fortaleza em direção ao Istmo novamente.

E claro, se for fazer de bicicleta, atente-se para a tábua das marés para saber os melhores horários de maré baixa.

Algumas fotos deste dia:


Rodrigo Hortenciano

Designer gráfico, com MBA em Marketing, atuando atualmente com como analista de mídias sociais. Sempre que possível gosto de fazer uma trilha, acampar, ou viajar para algum lugar longe da muvuca e geralmente gastando bem pouco ;)

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